Micropigmentação de aréolas devolve autoestima a mulheres

Salões, clínicas de estética e profissionais de beleza oferecem gratuitamente técnica que ajuda pacientes mastectomizadas

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Após a remissão do câncer de mama, doença que mais acomete as mulheres no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), quem vence essa batalha sofre ainda com alguns estigmas, como a perda dos cabelos e das sobrancelhas devido à quimioterapia e a retirada da mama e da aréola durante a mastectomia, efeitos que podem impactar diretamente sua autoconfiança para retomada de sua vida após o tratamento.

Uma solução para resgatar a identidade e a autoestima de pacientes mastectomizados, emocionalmente abalados após a doença, é a micropigmentação paramédica, empregada para reconstruir a aréola. Mulheres e homens que sofrem com a perda do mamilo em decorrência de câncer de mama, acidentes ou nascença podem se submeter à técnica que proporciona um aspecto mais natural à área afetada e minimiza a visibilidade de cicatrizes.

Em todo o país, diversos profissionais e clínicas de estética oferecem a micropigmentação de aréolas, de forma gratuita, para pacientes mastectomizadas após o câncer de mama que não têm como pagar pelo procedimento – em espaços especializados, o custo chegaria a mais de R$ 7 mil. Neste roteiro de ‘Boas Ações’ especial de Outubro Rosa, selecionamos algumas dessas iniciativas. Confira:

Projeto Cereja leva micropigmentação e tatuagens a hospital de São Paulo

Em São Paulo, a esteticista Viviane Gabriella Batista (foto) criou em maio de 2015 o Projeto Cereja, que oferece aplicação de tatuagem ou micropigmentação como parte da reconstrução da mama de pacientes tratadas por câncer no Ambulatório de Mastologia do Hospital São Paulo, conhecido como a Casa da Mama.
Viviane conta que acompanha há quase 9 anos um grupo de 100 pacientes atendidas na unidade, que oferece gratuitamente consultas médicas, de fisioterapia e grupos de acolhimento com familiares de pacientes tratadas por câncer. São realizadas cerca de 500 mamografias, 100 biópsias e 25 cirurgias mensalmente. A proposta é devolver a autoestima a mulheres e que passaram por mastectomia.

A pesquisa desenvolvida por Viviane segue protocolos estabelecidos e baseados em dados científicos. “O objetivo é levar a micropigmentação a um novo patamar na área paramédica no Brasil”, conta Viviane, que também é ativista do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer. Ela também colabora com o desenvolvimento de artigos, palestras e protocolos de atendimento para segurança do paciente oncológico em ambiente hospitalar e clínico e desenvolvimento de produtos dedicados a essa finalidade.

“O projeto faz o acompanhamento das pacientes nos primeiros seis meses, e, depois, a cada ano. O primeiro retorno é 30 dias após o procedimento, depois nos primeiros 6 meses e a cada ano temos também uma consulta”, explica.

O atendimento voluntário é realizado com doação de clientes, amigos, com recursos próprios e apoio de empresas em algumas ações de prevenção e conscientização do câncer de mama. Como a que será apresentada no evento Tocando vidas, Conscientização e uma abordagem de suporte especial após o Câncer de Mama, dia 18,  na sede do Instituto de Engenharia, pelo Rotary Clube de São Paulo Sudeste.

Campanha solidária em Santa Catarina já beneficiou 5 mil mulheres

O projeto Transformando Vidas e Reconstruindo Histórias, do Instituto Living Sculpture, foi fundado em 2017 pela especialista em dermopigmentação e empresária catarinese Lu Rodrigues, sendo voltado às pessoas que não possuem recursos financeiros.

Além da micropigmentação de areólas, a iniciativa oferece, como alternativa segura e indolor, um adesivo de auréola criado pela empresária para pacientes que, por conta do tratamento, ainda não possam realizar o procedimento estético. Desde a sua criação, o projeto já realizou mais de cinco mil reconstruções gratuitas de auréolas e distribuiu mais de 80 mil adesivos por todo o país.

Dona das marcas Lu Make Up e Natural Pigmento, Lu Rodrigues conta que uma campanha solidária permite o atendimento a mulheres que necessitam de reconstrução da aréola, por conta do tratamento de câncer. A cada três procedimentos de micropigmentação, realizados pela rede Lu Make Up, uma mulher é beneficiada com o procedimento no Instituto Living Sculpture.

Ele se mantém através de doações e de parcerias, e tem como objetivo transformar a vida das pessoas promovendo o bem-estar, a autoestima e a saúde. Para ser beneficiada, a paciente, que tiver indicação médica, precisa acessar o site e fazer o cadastro. Após avaliação das informações, a equipe do Instituto entrará em contato para agendar o procedimento. Já os adesivos são enviados pelos Correios.

Especialista em aréolas realistas oferece trabalho voluntário

No curso Aréola Flower Methodology, as pacientes que passaram pelo processo de mastectomia no câncer de mama e necessitam da reconstrução parcial ou total da aréola e mamilo, também podem ser atendidas gratuitamente. O curso é oferecido por Andreia Ferreira, especialista em aréolas realistas, que conta já ter atendido mais de 950 mulheres.

Além da rotina normal de atendimento, ela dedica seu tempo e conhecimento em projetos sociais, onde realiza atendimentos voluntários no Brasil e também em outros países. Ela não informou quantas pacientes já foram atendidas gratuitamente, nem como é possível acessar o serviço. Mas segundo Andrea, os valores dos procedimentos em seu estúdio variam entre R$ 1.200 a R$ 7.400.

“Depende de como está a área a ser trabalhada, se tem necrose ou não, enxerto, dentre outros fatores que irão dificultar a implantação do pigmento ou também se é uni ou bi lateral, harmonização, correção, reconstrução parcial ou total, além das cicatrizes que também se apresentam de diversas formas, cicatriz hipertrófica, atrófica, pequena, grande, larga ou fina”, detalha.

Especialista doa dois procedimentos gratuitos por mês no Rio

No Rio de Janeiro, mulheres e homens que passaram pelo câncer de mama e não podem pagar pelo procedimento também podem ter acesso gratuito à micropigmentação paramédica no estúdio de Deise Damas, na Barra da Tijuca. Especialista em técnicas naturais em sobrancelhas, lábios, olhos e areolas e professora da técnica no Brasil e na Alemanha, ela realiza até dois procedimentos gratuitos mensalmente, sob agendamento.
“O paciente passa por uma avaliação e então é agendado. É um benefício para quem não pode pagar pelo procedimento, normalmente pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde). Sempre é feito com autorização médica por escrito após a cicatrização da cirurgia“, explica Deise.
Segundo ela, após a mastectomia, a micropigmentação pode representar uma reconstrução para a mulher e ajuda muito na autoestima das pacientes que passaram pelo difícil processo de remoção das mamas por conta do câncer. “Esta técnica pode também ser feita em mulheres que fizeram cirurgias plásticas ou para acertos de pequenas assimetrias”, acrescenta.

Como é feita a micropigmentação do mamilo

micropigmentação é uma evolução da maquiagem definitiva, técnica que foi usada há alguns anos. O procedimento é mais conhecido no realce de sobrancelhas e lábios, mas a especialista destaca a importância da micropigmentação areolar que resgata a autoestima da mulher, redesenhando essa área dos mamilos.

A micropigmentação paramédica pode suavizar cicatrizes de cirurgias. No procedimento são redesenhadas as cores do mamilo e contornos originais. “Hoje o procedimento é feito em uma camada mais superficial e trabalhamos com pigmentos próprios para esta técnica”, explica a especialista Deise Damas.

“O procedimento é feito de forma que implantamos o pigmento numa camada bem superficial da pele. O trabalho é feito simulando realisticamente em forma de desenho o mamilo, podendo ser feita quando há ou não alguma parte do mamilo. O pigmento é específico para este procedimento, pois, as cores devem ser parecidas com as dos mamilos naturais”, detalha.

Segundo Deise, o pós procedimento é muito tranquilo, exigindo apenas que evite fontes de calor.  “São feitas duas sessões que levam uma hora e meia cada”, diz a especialista, que é licenciada do Rio de Janeiro pela Phibrows, maior academia europeia de micropigmentação, e trabalha na área da estética há 20 anos.

Cada vez mais realismo no desenho da aréola

Graças aos avanços contínuos nos campos da beleza e estética, a técnica de micropigmentação, que originalmente era destinada a corrigir imperfeições e aprimorar o design das sobrancelhas, evoluiu de maneira notável.

“Agora, ela desempenha um papel fundamental na promoção da autoestima das mulheres que triunfaram sobre a doença, por meio da micropigmentação paramédica”, diz Renata Barcelli, também especialista na técnica.

Ela explica que para que a mulher volte a ter a sensação de naturalidade e bem-estar, o procedimento é feito com técnicas que trazem mais realismo possível ao desenho.

“Além da luta contra a doença, os efeitos colaterais do tratamento, grande parte das vezes, fazem com que a mulher se sinta incompleta e/ou não se reconheça mais diante ao espelho. Por isso, durante o procedimento, mesclamos as cores para simular as texturas e trazer mais veracidade ao design, dando a impressão de que a aréola está lá de fato”, explica.

Para Andreia Ferreira, além de realismo, o trabalho de micropigmentação areolar é caracterizado pela delicadeza e naturalidade. “É uma verdadeira obra de arte, ajudando na reconstrução total ou parcial após câncer de mama ou cirurgia plástica”, afirma. Segundo a especialista, o procedimento é baseado em desenhos realistas, criando efeitos de projeção e profundidade.

Procedimento somente após fim do tratamento de câncer

Para realizar o procedimento, de acordo com as especialistas, é necessário que a mulher já tenha finalizado o tratamento contra o câncer e tenha autorização do seu médico. “Qualquer procedimento realizado precisa esperar no mínimo 6 meses após a finalização do tratamento’, diz Andreia.

“Apesar de aplicamos o pigmento apenas na camada superficial da pele, sem atingir as camadas mais profundas devido a sensibilidade local, para que o procedimento seja 100% seguro e não atrapalhe de nenhuma forma o tratamento, realizamos a técnica apenas quando a mulher recebe alta ou quando o médico autoriza, o que também faz com que o procedimento seja um marco no início de uma nova vida”, pontua Renata Barcelli.

A micropigmentação é um procedimento semi permanente, com durabilidade média de dois a até cinco anos. Se necessário podem ser realizados retoques após esse tempo. Mas para manter o resultado a longo prazo, é necessário seguir as orientações do profissional que fará a técnica, em relação a cicatrização e tempo de retoque.

“Assim como em outras regiões do corpo, o efeito da técnica não é definitivo, sendo necessário retoque, a cada dois anos, o que pode variar de acordo com cada paciente”, finaliza Renata.

Paciente levou técnica do Brasil para a Nova Zelândia

Um dos casos que mais impactou Andreia Ferreira foi de uma paciente que veio da Nova Zelândia para o Brasil para realizar o procedimento. Ela contou que a paciente recebeu o diagnóstico um dia antes do seu casamento, sonhava em engravidar e amamentar, mas acabou descobrindo a doença juntamente com a gravidez, e teve que fazer a mastectomia bilateral (retirada das duas mamas).

“Graças a Deus ela conseguiu ter a bebê, porém, não conseguiu amamentar. Depois da micropigmentação a bebê queria mamar, pois via o desenho e acreditava ser real. Foi muito emocionante quando ela se olhou no espelho no meu estúdio, e quando eu assisti no vídeo a bebê querendo mamar”, contou Andreia.

A paciente voltou para Nova Zelândia e seu médico, ao ver o procedimento, a incentivou a fazer também o curso para atender outras pacientes de lá. E assim ela o fez. “Meu trabalhou mudou duplamente a vida desta mulher, e isso é muito gratificante”, conta a especialista.

Andreia explica o trabalho de formação de outros profissionais por meio da sua metodologia que permite facilidade de reprodução da técnica aplicar sua técnica Aréola Flower. Ela compartilha seu conhecimento em cursos presenciais e online. Seu público-alvo é diversificado, incluindo micropigmentadores, tatuadores, profissionais da área médica e qualquer pessoa interessada.

Palavra de Especialista

Esteticista sonha em ver procedimento no SUS e planos de saúde

Por Viviane Gabriella Batista*

“Sou esteticista, trabalho com beleza desde os 16 anos. Já trabalhava com micropigmentação estética de sobrancelhas, olhos e lábios, mas, em 2010, tive uma amiga que teve um câncer de mama. Eu a acompanhei em todas as etapas do tratamento. 

Quando chegou o momento da finalização de reconstrução de sua mama, o médico responsável sugeriu e indicou que ela fizesse uma tatuagem – que pode ser chamada de micropigmentação ou tatuagem estética na mama. 

Nesse momento, e como eu já trabalhava com isso, minha amiga pediu-me que fizesse o procedimento. Naquele momento, não tinha a menor ideia do que estava fazendo, mas por coincidência eu estava indo para um congresso de estética fora do Brasil e o curso pós-congresso era exatamente o de micropigmentação de aréolas da mama. 

Fiz o curso, atendi minha amiga e foi uma experiência espetacular para nós duas. A partir daquele instante decidi que iria fazer isso para outras mulheres e comecei a procurar instituições sérias que pudessem validar esse procedimento.

Encontrei respaldo junto ao Ambulatório de Mastologia do Hospital São Paulo, conhecido como a Casa da Mama, unidade voltada ao atendimento de pacientes com câncer de mama.

Em 2015, essa unidade iniciou o que chamamos de Projeto Cereja, que utiliza a tatuagem como parte da reconstrução da mama de pacientes tratadas por câncer e que passaram por mastectomia – procedimento que visa devolver a autoestima às pacientes.

Sou uma ativista na causa, sou esteticista e agora estudando biomedicina. O projeto Cereja será minha tese de mestrado – que está praticamente pronta. Estou há oito anos (no projeto) porque meu sonho é que o SUS e os convênios médicos e que as pessoas saibam dessa possibilidade. 

Quando uma mulher faz a reconstrução pós-cirúrgica da mama, ela se sente realizada, plena, e com o tratamento realmente finalizado, quando elas se olham no espelho e veem a mama completa, inclusive com a aréola, é um momento de realização (pessoal e da equipe médica)”.

*Fundadora e voluntária do Projeto Cereja, criado em 2015 na Casa da Mama do Hospital São Paulo, e ativista do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer desde 2019.

Com Assessorias

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